Recessão
na economia influenciou resultado negativo recorde, mas meta fiscal do setor
público consolidado para o ano de 2016 foi formalmente cumprida.
As contas do setor público consolidado, que engloba o governo federal, os
estados, municípios e as empresas estatais, registraram em todo ano passado um
déficit primário de R$ 155,7 bilhões, ou 2,47% do Produto Interno Bruto (PIB),
informou o Banco Central nesta terça-feira (31).
Isso significa que as
despesas do setor público superaram as receitas com impostos e tributos em R$
155,7 bilhões. Essa conta não inclui os gastos com o pagamento dos juros da
dívida pública.
Esse foi o terceiro
ano seguido com as contas no vermelho e, também, o maior rombo fiscal da série
histórica do Banco Central - que tem início em 2001. Em 2015, as contas ficaram negativas
em R$ 111,24 bilhões, o equivalente a 1,85% do PIB. Até então, havia
sido o pior resultado das contas públicas.
Com o resultado
registrado pelas contas públicas no ano passado, a meta fiscal para o período
foi formalmente atingida. Para todo o setor público, o objetivo foi fixado em
um déficit (despesas maiores que receitas) de até R$ 163,94 bilhões.
Entretanto, a meta só
foi atingida porque em maio a nova equipe econômica, do presidente Michel Temer
conseguiu aprovar no Congresso Nacional uma revisão do objetivo fiscal para
2016. Sem a mudança, a meta seria de um superávit (receitas maiores que
despesas) de R$ 30,5 bilhões.
Recessão
O resultado ruim das contas públicas no último ano está relacionado com
a recessão que continuou a afetar a economia brasileira, aumentando o
desemprego, a taxa de inadimplência e prejudicando o recolhimento de impostos e
contribuições do governo, estados e municípios.
Também foram pagos
compromissos devidos pelo governo a organismos internacionais, instituições
financeiras, e houve uma redução do volume de restos a pagar.
A consequência de as
contas públicas registrarem déficits fiscais seguidos é a piora da dívida
pública e aumento de pressões inflacionárias.
Por conta do fraco
desempenho da economia e da piora do endividamento, o Brasil já perdeu o
chamado "grau de investimento", uma recomendação para investir no
país, retirado pelas três maiores agências de classificação de risco (Standard
& Poors, Fitch e Moody´s).
Desempenho
O desempenho das contas públicas no ano passado seria pior se não
fossem os estados e municípios. Dados do Banco Central mostram que, em 2016, as
contas somente do governo central (União, Previdência Social e Banco Central)
registraram um déficit primário de de R$ 159,47 bilhões.
Ou seja, o governo
central gastou muito mais do que arrecadou. Essa conta também não considera as
despesas com os juros da dívida.
Já os estados e
municípios tiveram superávit primário de R$ 4,66 bilhões, ou seja, arrecadaram
mais do que gastaram em 2016 - aqui também, sem considerar os juros da dívida.
As estatais apresentaram resultado negativo de R$ 983 milhões.
Juros e
déficit nominal
Em todo ano passado, ainda segundo informações do Banco Central,
pagamento de juros nominais somou R$ 407 bilhões - o equivalente a 6,46% do
PIB.
Deste modo, quando se
incorporam os juros da dívida pública na conta, no conceito conhecido no
mercado como resultado "nominal", que é utilizado para comparação
internacional, o déficit fiscal cresceu mais ainda e somou R$ 562 bilhões em
2016, o equivalente a 8,93% do PIB.
Esse número é
acompanhado com atenção pelas agências de classificação de risco para a
definição da nota de crédito dos países, indicador levado em consideração por
investidores. Nesta comparação, o patamar do déficit brasileiro é bem mais alto
do que outros países emergentes.
O resultado nominal
das contas do setor público sofre dos juros ainda altos (taxa Selic) definidos
pelo Banco Central para conter a inflação nos últimos anos. Atualmente, a Selic
está em 13% ao ano, o menor patamar desde março do ano passado. Entretanto, o
Brasil ainda segue nna liderança no ranking mundial de juros reais - calculados
após o abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses.
Por outro lado, o BC
tem registrado lucro com os contratos de swaps cambiais – cujos ganhos, que são
abatidos dos juros da dívida pública. Esse resultado positivo somou R$ 75,5
bilhões em todo ano passado. O BC ganha com as intervenções no câmbio quando o
dólar cai, e vice versa.
Dívidas
líquida e bruta
Segundo números do Banco Central, a dívida líquida do setor público
(governo, estados, municípios e empresas estatais) subiu de R$ 2,74 trilhões em
novembro, ou 43,8% do PIB, para R$ 2,89 trilhões em dezembro do ano passado – o
equivalente a 45,9% do PIB. Em dezembro de 2015, a dívida estava em R$ 2,13
trilhões (35,6% do PIB).
A dívida líquida
considera os ativos do país como, por exemplo, as reservas internacionais –
atualmente ao redor de US$ 370 bilhões.
No caso da dívida bruta
do setor público, uma das principais formas de comparação internacional (que
não considera os ativos dos países, como as reservas cambiais), o endividamento
brasileiro também cresceu. Esse conceito também é acompanhado mais atentamente
pelas agências de classificação de risco.
Em dezembro de 2016,
a dívida bruta estava em 69,5% do PIB (R$ 4,37 trilhões), patamar elevado para
países emergentes. O nível do fim do ano passado representa queda em relação a
novembro do ano passado, quando somava R$ 4,41 trilhões - o equivalente a 70,5%
do Produto Interno Bruto. Em dezembro de 2015, a dívida bruta estava em 66,2%
do PIB (R$ 3,92 trilhões).
Fonte: G1
Fonte: G1
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